segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Da Brutalidade Humana

Muito se questiona sobre o “mundo”, de que ele está “perdido”, de que a maldade “tem tomado conta”, quando acontece algum assassinato, especialmente aqueles mais violentos.

Pergunta-se sobre o valor da vida e indigna-se com a impunidade e problemas do mundo.

A “natureza” humana é questionada: somos bons ou maus? Paulo Coelho, no seu “O demônio e a Senhorita Prym” faz essa mesma pergunta. No enredo, que se passa num vilarejo pobre e isolado, um homem, desolado com o assassinato de sua família, resolve “testar” a natureza humana.

Ele afirma à pequena população de que enterrou nos arredores 10 barras de ouro e que, eles têm de decidir, num determinado período de tempo, sacrificar alguém da aldeia, em troca da informação da localização das tais barras.

Fica então, aqui, a questão de se o “bem comum” de todos é justificativa pela literal morte de alguém. Começam a postular a ideia de “sacrificar” uma velha senhora, estereotipada como a “louca” da comunidade.

O ato violento, sem fins de alimentação e sobrevivência é humano. Se falamos que um assassinato é desumano (a-humano, ou seja, não-humano), estamos caindo num grande equívoco. Ele é, fundamentalmente, um ato humano. Vide as guerras em busca de dominação e aumento de poder.

Não creio que haja um natureza humana, por si só, algo inato. Até mesmo nossos “instintos”, se acreditarmos nas descobertas da ciência, são reflexos de nossos antepassados, de experiências que nos constituiram.

A sociedade é uma prova cabal disso. Muitas foram as sociedades tão distintas da nossa que, cedo ou tarde, sucumbiram exterminando-se justamente em guerras, apoiadas em ideologias de poucos que acabam se tornando a de muitos.


Se um homem assassina outro, viola seu corpo e o direito à vida tão somente está fortalecendo essa capacidade de acabar com a existência de sua própria espécie (e a sua própria, individualmente), para alcançar objetivos que partem, sempre, de motivações egoístas.

Aqui a seleção natural proposta por Charles Darwin há um bom tempo, não se aplica, ou, se olharmos de outro ângulo, aplica-se porém de forma perversa. Isso porque muitas foram as ideologias que acreditaram que a guerra e/ou extermínio dos fracos só fariam surgir “bons humanos”, seres evoluídos. Tal foi a concepção de Hitler e de toda uma parte do globo.

Entretanto, com a guerra estamos exterminando aqueles que somos nós mesmos, em busca de algo que não sabemos existir. Somos frutos da evolução, mas matar a nós mesmos na ânsia por algo diferente do que somos não me parece nada mais que uma estupidez, afinal, não são os genes que nos fizeram o que somos, mas sim toda uma organização da humanidade.

Chama a brutalidade de algo humano e, antes de mais nada, uma observação e alerta. Não se trata de julgamento ou de justificar tais atos.

Saber do que somente nós somos capazes nos permite, em tese, prepararmos e proteger-nos de nós mesmos.

As gerações que estão e estarão aqui neste novo milênio têm a responsabilidade pelo destino de nossa espécie e das demais. Cabe a nós aceitarmo essa responsabilidade e fazermos dos homens do século XXI menos extintores de vida e maiores potencializadores dela, na medida em que já é passada a hora de melhorar, ascender à um novo nível existencial.

Com isso, não acredito que a violência e a brutalidade deixarão de existir, afinal, é uma manifestação humana (desagradável para a vítima, com certeza), mas acredito naquilo que Nietzsche dizia sobre a transvalorização de valores, ou seja, destruir velhas e construir novas formas de vida, de valores que possibilitem o ser humano se superar, tornar-se o além-homem, além-animal.

Até que os povos do mundo busquem isso, temos que ir lidando com nós mesmos, nossa agressividade e brutalidade, que é sua forma mais extrema e cruel, pois condena famílias inteiras à desgraça, que pode, afinal, também resignificar melhor o sentido de família, já que a morte e a violência tem a capacidade de construir, não apenas destruir.

Pintura de Nelson Magalhães Filho

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