sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Perguntas e Respostas (Participando de Pesquisa)

Um dia desses recebi um email da graduanda de Comunicação da Universidade Federal Fluminense Lorena Piñeiro. Ela passou a se interessar por Tanatologia, segundo ela, ao fazer um trabalho para um disciplina, se interessando ao ponto de realizar a sua "pesquisa sobre as diferentes perspectivas da morte na sociedade atual. Pretendo direcionar o foco para os profissionais que lidam com a idéia da morte diariamente, comotanatólogos, agentes funerários, coveiros etc", como escreveu no email.

Ela descubriu numa comunidade do orkut a minha pesquisa, "A Frágil Arte da Existência", e entrou em contato. Isso para provar que há interessados no assunto em muitos lugares e áreas distinta.

Pedi permissão para ela para colocar aqui suas perguntas e minhas respostas.


1 - Devido ao tabu que envolve a questão, muitas vezes, osprofissionais que trabalham com assuntos relacionados à morte tendem aser estigmatizados, como se a "idéia do morrer" fosse incorporada àsua imagem? Quando você decidiu se dedicar a esse estudo?

Trabalhar especificamente em situações onde a morte é muito presente, ou se interessar bastante pelo tema com certeza estigmatiza tanto os estudiosos reconhecidos quanto graduandos, como é o meu caso. Na minha Universidade, para ter uma idéia, meu nome já é associado ao tema, por ser o graduando que mais se interessa pelo tema, tendo uma pesquisa na área já, sendo coordenador de um grupo de estudo sobre o tema.
A morte é um tabu com toda a certeza, embora ela faça parte da vida e a todo momento estejamos “vendo-a”. Muitas pessoas nos olham como se fôssemos mórbidos, ou desejássemos morrer ou ainda como pessoas depressivas, tristes, enfim, tudo o que podemos associar è morte.
Na verdade, meu interesse sempre foi por temas esquecidos, por assim dizer. Então, desde a adolescência me interessei por coisas ditas “negras”, seja em música, seja em entreternimento. Durante o curso de Psicologia, pude perceber que realmente a morte é algo que deve merecer a atenção, tendo sempre em mente que pensar a morte é pensar a vida.

2 - Os estudantes da área de saúde são devidamente preparados paraenfrentar as questões da morte?

Embora a literatura diga que não, posso falar da minha área que é a Psicologia. Com certeza não temos um preparo técnico para tal. Tanto que acredito que apenas o curso da USP tenha a disciplina Psicologia a Morte, mas lá eles têm um grupo bem forte. Acho que para além de um preparo técnico, há um preparo humano, que se dá na família e na sociedade. Assim, se a sociedade não sabe lidar com as questões da morte, é difícil uma pessoa conseguir fazer isso. Esse movimento de pensar a morte vem como resistência à isso. Acredito que deveriam ser estimuladas mais reflexões acerca do tema, pois como ajudar alguém (dentro de cada área específica) se não conseguimos lidar com nossos anseios?

3 - Os cinco estágios comportamentais descritos pela doutoraKubler-Ross que seguiriam a descoberta de uma doença incurável, porexemplo, se manifestam de que maneira nos pacientes? E como osmédicos, psicólogos, tanatólogos trabalham para superar essas etapas?
Primeiro, gostaria de dizer que esses s]ao estágios muito questionáveis hoje em dia, e não tenho experiência pessoal com pessoas em situações de morte iminente. Acredito que para qualquer pessoa se defrontar diante da certeza da morte é algo que no mínimo mobiliza muitas coisas, como tristeza, raiva, desesperança, desilusão, etc., que são característcias dos estágios que Kubler-Ross vem pensar. Não acredito que devamos nos centrar em categorias como essas, pois temos na frente um ser humano, e acho que a leitura de Kubler-Ross serve mais para isso do que para identificarmos esses estágios. Além disso, não creio que a superação dos estágios (se é que existem) seja o objetivo, ou pelo menos deveriam ser, das pessoas que trabalham com a morte em hospitais, por exemplo.

4 - Como a atitude diante da morte mudou através dos tempos? Por que amorte vem desaparecendo do discurso nos meios familiares decomunicação?Há um historiador, Philipe Áries, que fez um estudo exaustivo sobre a morte ao longo dos tempos. Para não me estender aqui, pode-se dizer que a morte passou de algo que era vivido como natural e em família (com o moribundo morrendo em casa, em meio aos filhos, amigos e vizinhos), um evento aceito e vivido sem vergonha (às vezes até com glória), para uma época onde a morte é invertida (como diz esse autor), onde ela é escondida dos olhos das pessoas (salas esterilizadas, isoladas das demais, onde só o médico entra), onde é vista como vergonhosa pela equipe de saúde, pois significa fracasso do trabalho, as pessoas são isoladas, tornam-se números e patologias, perdendo sua identidade. A morte não é mais encarada com dignidade, mas temor.

5 - Por último, qual é a influência da mídia sobre a percepção damorte que temos hoje?A mídia tem grande responsabilidade por essa forma de ver a morte, pois ela banaliza a morte, a mostra como algo ruim (assassinatos, suicídios), e não como alívio de anos de sofrimento ou como um processo natural. Além disso, ela trabalha com interesses capitalistas, então supersensacionaliza coisas como o assassinato de uma criança específica, sendo que isso ocorre em todos os lugares, “demonizando” a morte e colocando-a como algo que pode ser e deve ser evitada.

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